O apartamento é colorido e tem 90 metros quadrados. Alguns, são até duplex. Na área em comum, há piscina com toboágua e borda infinita, lareiras, quadra de futebol, bosque e deck molhado. A descrição bem que poderia ser de um condomínio de alto padrão, mas na verdade, é de um projeto Minha Casa Minha Vida e custa uma média de R$ 250.000. Por trás desse projeto está a construtora Sindona, tocada pelo empresário Bruno Sindona, que vem de uma tradicional família de Osasco, na região metropolitana de São Paulo. Sua bisavó, Maria Julio Sindona, foi uma das principais e mais influentes fazendeiras da região nas primeiras décadas do século 20. Foi também a primeira mulher da cidade a tirar a carta de motorista, em 1928.
Mas os cofres polpudos que a família tinha foram esvaziando. “Meu avô e meus tios-avôs não souberam lidar com a riqueza, e acabaram perdendo bastante dinheiro”, diz Bruno. “Para minha mãe e meus tios, ficou um terreno, que era a casa de final de semana da minha avó”. Esse terreno foi vendido para uma incorporadora, que iria construir um prédio no local. A construção, de fato, aconteceu, mas a empresa faliu antes da obra ficar pronta. Bruno e seu pai, que tinha um salão de cabeleireiro e um estacionamento, decidiram usar as economias e concluir. O ano era 2008.
“Em 13 de setembro de 2008 fiz o lançamento desse negócio, mas foi meio frustrante”, afirma “As coisas deram errado para nós por alguns meses, porque não estavam comprando as unidades. Mas, alguns meses depois, o governo lança o Minha Casa, Minha Vida, dando condições boas de compra. Isso fez com que o mercado ficasse bastante consumidor, e ajudou no nosso lançamento”.Foi o primeiro projeto da Sindona Construtora. Nos anos seguintes, Bruno e o pai compraram outros prédios inacabados e terminaram a construção. Agora, também constróem do zero. Desde o início da operação, já foram 1.000 unidades entregues. Outras 1.200 estão em andamento, com um valor geral de vendas de 1,5 bilhão de reais.
A incorporadora, que mantém a sede em Osasco, constrói prédios populares, para programas habitacionais, mas quer se diferenciar na arquitetura dessas construções. A ideia, segundo o empreendedor, é deixar os edifícios com a cara de “construções de luxo”. “Um empreendimento popular geralmente é quadrado, bege, básico”, diz Bruno. “Por que não colocar uma cor? Fazê-lo de uma maneira alegre, focando na beleza? Isso ajuda na democratização de espaços. Olha o que acontece na periferia na relação dos cabelos das mulheres. Mulheres que colocam cores, formas. Isso é busca de identidade. Queremos dar identidade para os apartamentos também”.
Como
são os “prédios de luxo”
É difícil olhar para o portfólio de projetos da Sindona e encontrar um único prédio que não seja colorido. A maioria tem faixas, quadros ou pontos de variadas cores, como azul, amarelo e verde. “As pessoas de baixa renda tem uma busca por pertencimento muito grande, e isso está ligado às cores”, diz Bruno. “Os carros no Brasil são super coloridos, os artistas que usam cores, como Kobra, Tarsila do Amaral e Romero Britto, são sucesso. O que a Sindona se diferencia é nesse olhar. Você vai num bairro rico e os prédios são todos iguais, todos beges, cinzas ou pretos. Onde está o Brasil nisso? Parece a cor do Darth Vader”.
Mas
não é só na cor que a construtora foca para “embelezar” os condomínios
populares. As áreas em comum dos prédios também são focadas para dar um senso
de comunidade e fazer com que os moradores aproveitem o que adquiriram.
Há casos de projetos com: Piscina de borda infinita, Cuidado para que todos apartamentos tenham iluminação natural, Bosques, Sauna, Deck molhado, Horta comunitária, Espaço luau
· Solarium, · Piscinas
“O desafio é fazer isso economicamente viável, porque se não for assim, não conseguimos fazer”, diz Bruno. “Para isso, precisamos ter um mercado amigo. Termos fornecedores parceiros, gestão de custos e organização certa para os custos caberem dentro de um programa Minha Casa, Minha Vida”.
Bruno
vem traçando sua carreira pensando em moradia popular, e já ganhou prêmios por
isso. Além disso, foi convidado pelo governo federal para participar do
Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável.
Com
a construtora, quer avançar para fora de São Paulo e seguir crescendo.
“Não tenho vontade de ter a maior incorporadora do Brasil”, diz. “Mas quero ser um desenvolvedor de comunidades. A comunidade é o jeito de desenvolver a pessoa de baixa renda. Pras classes mais altas, isso é absurdo. Para a periferia, isso é a coisa mais natural do mundo. As pessoas só conseguem se desenvolver coletivamente. Diretor comercial é amigo de bairro, diretor de engenharia é meu primo. Eu não conseguiria ter uma incorporadora se fosse contratar pessoas do mercado, a gente só conseguiu porque foi uma construção coletiva”.
Fonte: Exame
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